Cinema

Cine Delírio
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Toda sexta feira às 17horas no campus UNIR no Bloco de História





  Baseado no livro The corporation - the pathological pursuit of profit and power de Joel Bakan, A corporação é um documentário que nos apresenta um pouco do que acontece no mundo das grandes corporações. O filme mostra os vários crimes cometidos por essas organizações e como eles afetam nossas vidas diretamente. O único objetivo dessas empresas é o lucro, mesmo que para isso tenham que destruir o meio ambiente, explorar o trabalho infantil ou até provocar doenças mortais nos consumidores de seus produtos.







Perante a lei norte americana, as corporações são reconhecidas como ‘indivíduos’, ou seja, gozam de direitos como qualquer cidadão. Porém, quando se trata dos crimes cometidos por elas, não existe uma pessoa real para ser responsabilizada pelas atrocidades cometidas por estas empresas. Partindo da ideia de que corporações são indivíduos, o documentário tenta traçar um “perfil psicológico” desses indivíduos. Segundo alguns entrevistados no documentário, trata-se de um caso grave de psicopatia.






Psicopatia é uma doença mental grave, caracterizada pela ausência de sentimentos genuínos, frieza, insensibilidade aos sentimentos alheios, manipulação, egocentrismo, falta de remorso e culpa por atos cruéis. Todos esses sintomas descrevem com precisão a postura adotada pelas corporações diante da sociedade. Algumas destas empresas demonstram frieza ao explorarem a mão de obra barata de países pobres - inclusive de crianças, para obter maiores lucros. Outras empresas manipulam a população através de propagandas para que as pessoas acreditem que precisam consumir cada vez mais. Novamente o objetivo é o lucro. Outras ainda demonstram total falta de remorso ao utilizarem um produto químico (BST) nas vacas para aumentar a produção de leite que causa dores horríveis no animal e ainda é prejudicial à saúde humana.










O documentário conta com entrevistas e comentários de nomes de peso como Noam Chomsky, Milton Friedman, Mark Moody-Stuart (ex-dirigente mundial da Shell) e Vandana Shiva. A corporação se encaixa muito bem na temática meio ambiente, pois apresenta um dos grandes causadores de problemas ambientais no mundo: a exploração desmedida de recursos naturais e o modelo de produção desumanizado. O filme é um retrato da situação atual deste planeta que grita por mudanças antes que seja tarde demais.






Ficha técnica:


Título Original: The corporation


País de origem: Canadá


Diretor: Mark Achbar


Ano: 2003


Roteirista: Joel Bakan



 ÉRIKA LIMA


O Senhor das Moscas




O filme de Peter Brook de 1963 é Baseado no romance inglês da década de 50, “O senhor das moscas” (1954) do escritor William Golding. A história de um grupo de crianças e pré-adolescentes cadetes que sobrevivem a um acidente de avião que cai sobre o mar, deixando a deriva os sobreviventes que conseguem chegar a uma ilha deserta longe de qualquer civilização e ordem social. O grupo de meninos educados sobre a rígida disciplina militar se vêm agora num ambiente hostil sem a autoridade de pais, de professores, de autoridades superiores, com ausência da própria lei e do estado, é liderado pelos adolescentes mais velhos Ralph e Jack. Dois lideres natos com personalidade e métodos diferentes de imporem suas vontades ao grupo. A princípio, nos primeiros dias na ilha, o grupo mantem todos os aspectos da vida social de uma civilização contemporânea da qual eles faziam parte. Porém com o decorrer do tempo e sobre as influências externas como fome e medo o grupo passa viver da maneira que o Autor Thomas Hobbes em “o leviatã” define como “estado de natureza”, onde todos vivem numa barbárie de uma sempre guerra contra os outros. Essa metamorfose politica e social degenerativa por que passa o grupo de jovens adolescentes abordarei a seguir a partir de agora.



Todos estão na praia, sozinhos na noite escura e fria. Quando o dia nasce é marcada uma reunião. Na ausência do Estado formal para reger as atitudes dos cadetes, o grupo se reúne em assembleia e decidem que toda diretriz e norma a se seguir para manter a segurança e ordem, devem ser decididas nesse conselho por voto da maioria, que, inclusive é este conselho composto por todos os adolescentes e crianças; na maneira que Hobbes define como primeiro embrião do estado que conhecemos:





Diz-se que um Estado foi instituído quando uma multidão de homens concorda e pactua cada um com cada um dos outros, que a qualquer homem ou assembleia de homens a quem seja atribuído pela maioria, o direito de representar a pessoa de todos eles (HOBBES, O Leviatã, 1651, capitulo 18).



A intenção é clara por enquanto de se manter a convivência harmônica entre todos, os espirito da sociedade dessas crianças a preservação da paz com diz Thomas Hobbes:



Desta lei fundamental de natureza, mediante a qual se ordena a todos os homens que procurem a paz, deriva esta segunda lei: Que um homem concorde, quando outros também o façam, e na medida em que tal considere necessário para a paz e para a defesa de si mesmo, em renunciar a seu direito a todas as coisas, contentando-se, em relação aos outros homens, com a mesma liberdade que aos outros homens permite em relação a si mesmo. Porque enquanto cada homem detiver seu direito de fazer tudo quanto queira todos os homens se encontrarão numa condição de guerra (Leviatã, capitulo XIV, 1651)





Jack e Ralph se revezam na liderança do grupo. Ralph comedido e centrado pensa sempre em manter a ordem dentro do grupo, preocupando-se com o bem estar e a sobrevivência. Jack, mesmo de inicio aceitando compartilhar a liderança do grupo parece o mais entusiasmado de estar na ilha, se sentido livre, longe das ordens dos pais e dos professores. Um consegue a liderança pelas habilidades físicas e outro pelo uso da razão e inteligência. Monta-se um plano para chamar à atenção de navios e helicópteros que possivelmente estivessem de passagem pela costa da ilha para assim serem resgatados. Uma fogueira é feita no alto de um morro, o grupo se reveza para manter vigilância sobre a fogueira 24 horas por dia. Os dias passam é nada do grupo ser resgatado, com a fome cada vez mais forte e presente, o extinto de sobrevivência vai ficando latente entre todos. Muita coisa pode mudar a partir de agora; o ser humano antes acostumado ao conforto e segurança proporcionado pelo grande estado moderno, agora se encontra sozinho diante da natureza e da própria sorte.



Ralph toma gradativamente a liderança de boa parte do grupo, rejeita a inteligência de Jack, pois como Thomas Hobbes diz “a natureza dos homens é tal que, embora sejam capazes de reconhecer em muitos outros maior inteligência, maior eloquência ou maior saber, dificilmente acredita que haja muitos tão sábios como eles próprios” (1651). Assim, Jack decide viver de acordo com as suas vontades levando muitos deles a viverem sobre seu novo modo de vida. O grupo de Jack não se interessa mais com a fogueira, não se importam se vão ser ou não serem resgatados, agora o que interessa é conseguir comida e se divertir ao máximo nessa nova vida. Um helicóptero sobrevoa a ilha, a fogueira não está acesa, Jack era o responsável no momento por tomar conta do fogo, mas ele não estava no auto do morro, preferiu ir caçar porcos e o resgate é frustrado, os pilotos não enxergam os garotos perdidos e vão embora. Uma briga grave acontece entre Ralph que não aceitou que Jack tenha abandonado a fogueira, culpando o novo líder rebelde por continuarem presos na ilha. O racha no grupo se acentua ainda mais, Jack decide construir um novo acampamento e abandona o restante dos meninos que ficaram sobre a liderança de Ralph. Jack quer a liderança do grupo, Ralph também a quer, e como Thomas Hobbes diz que quando dois homens desejam a mesma coisa, ao mesmo tempo em que é impossível ela ser gozada por ambos, eles tornam-se inimigos (1651). E foi o que aconteceu: dois lideres inimigos e dois grupos separados por seus objetivos distintos.



Nada é como no inicio, nada mais é igual à vida no colégio militar. Jack e seu grupo vivem agora sobre rege do estado de natureza, pela liberdade natural onde a ausência de impedimentos externos, impedimentos que muitas vezes tiram parte do poder que cada um tem de fazer o que quer, não existe. Jack não abriu mão de fazer o que bem quer para seguir as regras estabelecidas no contrato feito na primeira assembleia do segundo dia na ilha, e seu grupo vive em estado de guerra contra Ralph, sem renunciar o modo de vida livre pelo modo de vida regulado (Hobbes, Thomas, O leviatã,1651). O que era violência na antiga sociedade, no grupo de Jack foi relativizado, a razão deixou de ser o guia das ações humanas, e apenas a sagacidade e as habilidades corporais são importantes em meio à selva braba. Roubar também não é mais considerado crime para Jack, seu grupo tira a força os óculos de um garoto do grupo de Ralph e uma faca. Jack é um caçador habilidoso e faz de tudo o possível para que seu grupo sobreviva, o grande líder do grupo de bárbaros meninos e por isso não se importando com os garotos de Ralph suas atitudes são sempre egoístas.



Por não haver um poder comum capaz de mantê-los em respeito com diz Hobbes, eles se encontram naquela condição a que se chama guerra, e uma guerra que é de todos os homens contra todos os homens (1651). Ralph se ver sozinho, seu grupo reduziu-se a ele mais um garoto gordo e desajeitado. Eles procuram o grupo de Ralph para tentar persuadi-los a voltarem a pensar como seres humanos racionais e abandonarem o modo de vida bárbaro onde a força bruta se sobressai sobre a inteligência. Mas o grupo de Jack se sente mais cada vez mais forte e poderoso apelando para a força dos instintos, a força bruta rejeita a proposta de Ralph de os jovens botarem a mão na consciência e largarem as práticas violentas. O menino gordo e desajeitado ao dirigir a palavra é morto pelos selvagens de Jack, e ódio e estado de guerra se encontra no seu maior nível nesse momento. Ralph é cassado como um animal pelo resto dos meninos; toda a ameaça ao direito de se fazer o que queira e todo que tentar quebrar essa nova regra selvagem de viver, é considerado inimigo mortal.



A caçada continua, Ralph foge pela mata, perseguido até praia. E antes de ser pego pelo grupo de Jack eis que todos avistam soldados a beira da praia que perguntam: o que está acontecendo aqui? Neste momento o confronto de sociedades acontece. De um lado a sociedade baseada nos instintos primários e na violência de uma guerra entre todos e o Estado moderno trazido de volta pelos oficiais militares. O estado de natureza do grupo de Jack não pode resistir agora sobre a autoridade que os encontrou. O contrato social um dia feito é inalienável, e mesmo se vivendo numa ilha deserta, uma hora tudo volta a ser o que era antes. O Mundo selvagem de Jack teve seu fim, mas a barbárie humana dos que vivem em estado de natureza pode ser encontrado em qualquer parte do mundo. Não da forma clássica descrita por Hobbes, mas em atitudes pequenas e isoladas de homens que querem viver pelos seus instintos e pela sua própria liberdade de fazer o que quiserem. Mas como já disse o confronto do estado de natureza com o grande Leviatã de Hobbes é sempre inevitável nos dias de hoje. Cabendo punições a quem deseja viver fora da lei.



Robson Cordeiro de Araújo





Leões e Cordeiros



Em 11 de Setembro de 2001 os Estados Unidos da America é alvo de um ataque estrangeiro em seu solo. Aviões comerciais sequestrados foram lançados sobre o World Trade Center e sobre prédio do Pentágono, matando milhares de pessoas. Inaugurando assim, um novo cenário de guerras no mundo: a guerra ao terror fundamentalista. O grupo terrorista Al-Qaeda que tem sua base operacional no Afeganistão assume a autoria do ataque. O grupo político e militar Talibã que controlava o Afeganistão também é responsabilizado pelo atentado, já que sustentava e apoiava o grupo de Osama Bin Laden, o líder da Al-Qaeda.

Com o aval e o apoio da Organização das Nações Unidas, o governo americano lidera uma ofensiva no intuito de capturar Osama Bin Laden e destruir tanto a Al-Qaeda quanto Talibã. O objetivo não é totalmente alcançado, pois Bin Laden não foi encontrado e o Talibã e a AL-Qaeda não foram destruídos, apenas perderam o domínio do Afeganistão se concentrando em guerrilhas espalhadas por todo território. Com a guerra no Afeganistão enfrentando problemas, os EUA entram numa nova guerra, agora contra o Iraque que é acusado de financiar o terrorismo e ter armas de destruição em massa. Mesmo a ONU não encontrando evidências que justificasse a invasão do Iraque, os EUA e seus aliados decidem unilateralmente, descartando a resolução da ONU, invadir o Iraque com intuito de tira o poder das mãos de Saddam Hussein.

Com passar dos anos de guerra nos dois frontes, o governo republicano de George W . Bush antes apoiado pela população para promover a guerra, depois de milhares de mortes de soldados americanos e com escândalos de tortura contra os iraquianos, agora se encontrava com desprestigio diante a opinião pública.

É nesse cenário e contexto que o filme Leões e Cordeiro é baseado. Com a história de um senador republicano que promove uma nova tática ofensiva no Afeganistão buscando mudar o estado de derrota das tropas Americanas num cenário de vitoria contra o terrorismo. A nova tática é transmitida para uma repórter de um canal televisivo de grande audiência com a prerrogativa de mudar a opinião pública que nesse momento desaprovava a guerra em virtude das baixas e do não alcance total dos objetivos planejados.

Paralelamente a historia do senador e da repórter segue a o embate entre um professor que tenta trazer de volta as aulas um aluno que havia perdido o interesse pelo estudo da política por resultado do estado da política americana no momento das guerras. Também temos no contexto do filme outros dois jovens alunos desse mesmo professor, que ao terminarem o ensino médio embarcam na ofensiva americana se alistando na guerra do Afeganistão. Estes dois estudantes soldados levados por um sentimento de amor a pátria e de participação positiva na política internacional do seu país se tornam os frontes da nova tática militar do senador republicano. A partir desta introdução e contextualização do filme farei uma abordagem ligando relações de poder e de política entre os personagens apresentados.

Primeiramente analisarei a definição que diz que:

“o Estado não se deixa definir a não ser pelo específico meio que lhe é peculiar, tal como é peculiar todo outro agrupamento político, ou seja o uso da coação física” (WEBER, Max. Ciência e Política: Duas Vocações. p.56).

Partindo desse pressuposto o Estado americano no uso do poder de sua coação física pretende alcançar seus objetivos políticos na luta contra o Terror no Afeganistão usando o que lhe é mais característico: o uso da sua força militar. A nova tática de guerra do senador republicano se baseia nessa atribuição do Estado, para assim mudar o cenário de derrota do poder político americano frente ao seu inimigo. O senador republicano no uso do poder estatal em sua nova tática militar, busca então prestigio na consecução do seu objetivo político se enquadrando perfeitamente na definição de política feita por Max Weber. Pois para o autor:

“Todo homem, que se entrega a política, aspira ao poder – seja porque o considere como instrumento a serviço da consecução de outros afins, idéias ou egoístas, seja porque deseje o poder pelo poder, para gozar do sentimento de prestigio que ele confere” (Ciência e política: duas vocações, Pag. 57)

Eis o senador encarnando o poder político em suas duas principais características. Agora vamos analisar o dialogo entre o senador e a repórter que busca não ser uma mera ferramenta de informação usada pelo governo americano. No embate entre a responsabilidade da repórter em noticiar criticamente a nova tática do governo, a força do Estado se sobressai frente ao dever de informar de forma critica do Jornal. Afirmando o objetivo do estado de propagandear seus feitos através dos meios de informação. A força do partido republicano, atrelada a força econômica de seus membros, que através desta força coage empresas do meio de comunicação, influenciou o Dono do Jornal a publicar o que agradava ao governo. Temos então um elemento de poder, a coação econômica (Duverger, Maurice, Ciência Política: Teoria e Método. pag. 13), usando o poder de forma compensatória – empresas de políticos investiam dinheiro em empresas jornalísticas e ao mesmo tempo exigiam alinhamento editorial do jornal com a ideologia do governo, uma relação de troca de favores, compensatória para ambos os lados (Galbrath, Anatomia do Poder. pag.5). Segue-se então o governo usando do poder de coerção psicológica por meio da propaganda para tentar legitimar sua guerra perante a opinião pública (Duverger, Maurice, Ciência Política: Teoria e Método. Pag.14).

No outro paralelo do filme, o professor tenta convencer um aluno que antes era exemplar e promissor e que agora havia abandonado o estudo, a voltar à sala de aula. O estudante via no contexto atual em parte o que Weber define como política: “instrumento a serviço da consecução de afins egoístas”(WEBER, Max. Ciência e Política: Duas Vocações. p.56), buscando o bem próprio e não o da coletividade. O professor demonstra seu poder oriundo da fonte organizacional do poder público para dizer ao aluno que ele poderia passar de ano sem assistir as aulas, mas que esse não é o objetivo do mestre (Galbrath, Anatomia do Poder, pag.7). Mostrando que o objetivo do professor é instigar no aluno o desejo ao conhecimento e a participação ativa na política. No final, o aluno parece entender a outra finalidade da política que é atender aos anseios coletivos e não particulares, percebendo também que é possível fazer uso da política para causas nobres.

Agora analisaremos o que levou dois estudantes a lutarem na guerra. Por um lado existe o motivo cívico de participar através da guerra no destino do país. Por outro, o poder do enquadramento coletivo, o poder da Coação por pressão social difusa, a coação psicológica da propaganda, que o governo nas mãos dos republicanos, usa para levar cidadãos a aceitarem as ordens de seus governantes e irem à guerra (Duverger, Maurice, Ciência Política: Teoria e Método.Pag.13-14). Em meio a estes fatores de poder que a sociedade americana compartilha inserida nas suas relações, os dois jovens leões lutam no Afeganistão. Sendo comandados por um cordeiro do senado, que não entendendo suficientemente de táticas militares o leva ao caminho da morte em batalha. Trazendo os problemas políticos discutidos para nosso contexto brasileiro. Como nosso país se comportaria diante de uma realidade parecida com a dos EUA? Teríamos alistamento voluntario ou obrigatório? Com tanto desprestigio da política diante da opinião pública brasileira será que obedeceríamos nossos governantes para irmos a uma guerra mesmo ela sendo justa? Somos influenciados pela ideologia dos poderes governantes, sim ou não? São temas importantes para se analisar que deixarei para uma outra oportunidade.