Antropologia

Cultura e Civilização




O termo cultura é usualmente empregado para definir conhecimento, crença, arte, moral, lei e costume de um determinado grupo social; valores supremos sobre os quais se apoiava a ordem social. Portanto dizem que existe a cultura de tal empresa, a cultura de tal povo e nação. Já o termo civilização é empregado como sinônimo de sociedade, quando se diz, por exemplo, a civilização Asteca é diferente da civilização européia. Outros entendem por civilização uma maneira de viver baseada no requinte, nas boas maneiras, ou simplesmente por fazerem parte de uma sociedade industrial moderna. Na história da antropologia nas correntes inglesa, francesa e alemã o termo cultura e civilização tem um mesmo significado.

  
Na tradição francesa “a civilização é representada como uma conquista progressista, cumulativa e distintamente humana, os seres humanos são semelhantes , pelo menos em potencial” (Adam Curper 1999). Portanto todos são capazes de criar uma civilização dependendo exclusivamente do uso da razão. A idéia de progresso, de desenvolvimento é muito ligado a palavra civilização. Diderot aput Starobinsk (1920) chega a afirmar de acordo com o pensamento iluminista que a civilização poderia se tornar substituta secularizada da religião. Esta tradição é considerada universalista e os franceses consideram sua própria cultura e civilização como sendo universal. A partir que esta nova concepção se espalhou pela Europa com o iluminismo Francês, os intelectuais alemães em contrapartida, a finco de defender a cultura nacional contra a civilização cosmopolita pregaram como sendo cultura os valores espirituais contra o materialismo, as artes e o trabalhos manuais em contraposição a ciência e a tecnologia, a genialidade individual e a expressão das próprias idéias contra a burocracia asfixiante, as emoções contra as razões áridas. Os alemães usavam o termo Kultur no lugar de civilização. Na Concepção inglesa de cultura liberal como Mathew Arnold definiu cultura como “o melhor de tudo o que se teve de conhecimento e foi dito”. Com os britânicos se adquire conhecendo o espírito humano. Os ingleses na verdade mesclaram na sua tradição cultural o significado de civilização dos franceses e de Kultur dos alemães.
  
Adolf Bastian (1826-1905) disse que assim como as raças as culturas são híbridas, não existem culturas puras distintas e permanentes. A humanidade muito igual entre si desenvolvem maneiras distintas de responde as exigências externas de sobrevivência, uma hora produzindo a própria cultura e outras vezes emprestando conhecimentos de outros povos. Pensamento correspondido por Franz Boass, um relativista cultural que diz que tecnologia, ciência e o conhecimento alcançados pela cultura moderna, não são resultados de um único povo, mas de um esforço de vários povos que trocaram cultura e conhecimento entre si por força de um fator histórico. Desta maneira podemos ver que cultura e civilização podem ter outro significado demonstrando um outro aspecto no campo antropológico na procura de definição do que se pensa sobre civilização.
  
Parson (1902 – 1979) define como cultura e civilização para os propósito da ciência como sendo um discurso simbólico coletivo sobre conhecimentos, crenças e valores. O americano Gerts (1926 -2006), depois de estudos feitos em toda a literatura antropológica chegou à conclusão de que a cultura não poderia ser explicada e certamente não poderia ser explicada; podia-se talvez apenas explicar o que uma representação simbólica significava para os espectadores.
  
No final o pensamento que se sobressai na atualidade é que cultura de forma alguma pode ser definida cientificamente de forma unitária, e mesmo assim como Eliot (1888-19655) afirma que “deve ser valorizada a diversidade cultural, uma cultura mundial que fosse simplesmente uniforme não seria cultura, teríamos uma humanidade desumanizada”.
  
  
  
  
  


Natureza e Cultura


O homem é um ser biológico e ao mesmo tempo um individuo social. Muitas de nossas atitudes são forçadas por estímulos biológicos e outras vezes sociais. A dificuldade se encontra principalmente em delimitar a linha que separa o social cultural do biológico. Onde acaba a natureza e onde começa a cultura? Experiências feitas de isolar crianças recém nascidas para averiguar se a cultura é estimulada pela psique e não pelo convívio com a sociedade se mostraram infrutíferas. Observações feitas na descoberta de crianças que foram criadas por lobos poderiam ter mostrado que fora da sociedade o ser humano de maneira alguma pode se tornar um ser que assimila e produz cultura. Mas essas crianças encontradas tinham debilidades mentais e por isso o sucesso da pesquisa foi insatisfatório. Experiências provocadas por ciêntistas manipulando seres humanos é inapropriado e antiético, dessa maneira nunca poderemos saber por experiências qual comportamento vais se sobressair, o biológico ou o social cultural. Sendo assim, o estado anterior à cultura e a sociedade é impossível de se encontrar.
Existiu sempre um circulo vicioso ao se procurar na natureza a origem das regras institucionais de uma cultura, mesmo assim chegou-se a um entendimento que diz que “tudo quanto é universal no Homem de pende da ordem da natureza e se caracteriza pela espontaneidade, e que tudo quanto está ligado a uma norma pertence a cultura e apresenta o atributo do relativo e do particular” ( Levi straus).

 
Assim como o determinismo biológico que diz que a natureza humana é responsável pela formação dos aspectos culturais da sociedade e do individuo, existe também, uma corrente que afirma ser o econômico e o ambiente geográfico os fatores principais que determinam a construção de cultura. Mas como o próprio nome diz “determinismo”, essas correntes são equivocadas ao trazerem exclusivamente pra si os fatores determinantes da cultura. Não quer dizer porem que estes determismo não influencie a formação cultural, mas que de forma alguma é o fator primordial. A vida cultural está sempre condicionada pela economia e pela geografia assim como o ambiente geografico e economico estão sempre condicionados a cultura.

 


A História da Antropologia



A antropologia no correr de sua história esteve debruçada em estudar dois temas principais: raça e cultura. Levi Strauss diz que o pecado original da antropologia foi fazer confusão entre a noção puramente biológica da raça e as produções sociológicas e psicológicas das culturas humanas. Gobineau deu inicio ao discurso racial na matéria antropológica promovendo um ciclo de erro intelectual que só foi superado com Boas e com os outros pais da antropologia. Estes argumentos de raças superiores e raças inferiores serviram apenas a legitimação de praticas discriminatória e exploradora por parte de nações imperialistas.
 
Um outro paradigma da antropologia é a tentativa de se descobrir como devemos relacionar-nos com os outros, o etnocentrismo. E nesse sentido a história da antropologia remonta ao tempo dos filósofos gregos com Platão e Heródoto de Halicarnasso (c. 484 -425), quando a abordagem relativista e universalista já se fazia presentes na discussão. No século dezoito com o advento do iluminismo “ a idade da razão” e antes do próprio iluminismo com Descartes (1596-1650) , Hobbes (1588 – 1679) e Locke (1632-1704) foram feitas grandes contribuições para a construção do pensamento antropológico, “ o individuo livre devia ser a medida de todas as coisas, do conhecimento e da ordem social”. Rousseau e Hobbes com a idéia de Estado de natureza inocente e de estado de natureza bárbaro e selvagem dividiram-se sobre qual a natureza inicial do ser humano nos seus primórdios. Foram os enciclopedistas liderados pelo filósofo Denis Didetot (1713-1784) que mais contribuíram para sistematização do conhecimento, dando base para estudos mais aprofundados da história da cultura e da civilização humana. Enquanto o iluminismo acreditava no individuo e na mente racional, em contraste o pensamento romântico deslocou sua atenção do individuo para o grupo, da razão para a emoção.
 
Na era das revoluções industriais e francesa até o fim da primeira guerra mundial o pensamento evolucionista da antropologia influenciado por Hebert Spencer (1820-1903) que fundou o Darwinismo Social e de Morgan (1918-1883) que distingue três grandes estágios da evolução cultural, selvageria, barbárie e civilização exerceu influencia considerável sobre a antropologia posterior. O estudo de Tylor (1832-1917), outro evolucionista buscou definir o conceito de cultura “ Cultura ou civilização, tomada em seu mais amplo sentido etnográfico, é aquele todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte , moral, lei, costume e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem na condição de membro da sociedade” (TYLOR, A ciência da cultura. In. CASTRO, Celso org. evolucionismo: Textos de Morgan, Tylor e Frazer. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.2005). Em o Ramo de ouro, Frazer atenta para um estudo comparativo dos mitos, folclores e crenças de varias sociedades. Argumentando no sentido de que o pensamento Humano evolui de um estagio mágico onde as pessoas apelam para simpatias e manipulações de matérias a fim de se mudar uma realidade, passando para um estagio religioso onde procuram o auxilio de seres espirituais superiores para alcançar mudanças em suas vidas. O fim desse processo termina quando o homem não mais procura a magia ou a religião para interferir em sua realidade e passa a buscar na ciência e suas técnicas, meios de manipular o ambiente favoravelmente aos seus anseios. Mais uma idéia de progresso e evolucionismo dos povos tentando mostrar que o europeu se encontra num estágio superior.
 
Superando o evolucionismo os quatro pais fundadores da antropologia Franz Boas (1858 – 1952), Malinowski (1884 1942), Radcliffe-Brown (1881-1995) e Marcel Mauss (1884-1942), em conjunto, eles realizaram uma renovação quase total de três das quatro tradições nacionais a Alemã, a Francesa, a Americana e a Britânica. Boas divide os estudos da antropologia em lingüística, antropologia física, arqueologia e antropologia cultural. Malinowski estabeleceu um novo padrão para a pesquisa etnográfica. Radcliffe-Brown disse por não simpatizar particularmente com a palavra cultura, para ele a questão central da antropologia era descobrir como uma sociedade era integrada, e quasis as forças que a mantinham coesa como um todo. Muss foiu um pesquisador de fenômenos sociais totais, considerava-se continuador do trabalho de Durkheim, tendo uma visão holística da sociedade,a idéia de quem a sociedade era um todo organicamente integrado, um organismo social.
 
Finalizo aqui o pequeno relato da historia da antropologia.
 

O Paradigma Evolucionista da Antropologia



Pensamento de uma forma histórico evolucionista Morgan classifica em estágios de desenvolvimento o progresso da humanidade buscando a sobrevivência da espécie. Citando exemplos de que os povos do planeta no século XX se encontram em determinado estágio de evolução. Afirma então que a selvageria precedeu a barbárie , assim como a barbárie precedeu a civilização. No status de selvageria a humanidade se encontrava em um estado inferior de infância que chegou ao fim com a dieta de subsistência a base de peixes e frutos e com o manuseio do fogo. Seguiu-se então o estado de selvageria intermediaria quando o homem já manuseando o fogo e comendo dos frutos da natureza inventa o arco e flecha, passando com essa invenção pra um estado de selvageria superior, que por sua vez termina com a invenção da arte da cerâmica. Com o advento da cerâmica o homem passa para um status de barbárie inferior alcançando um novo nível de desenvolvimento, saindo deste estado inferior assim que começa domesticar animais, cultivar alimentos vegetais e usando tijolos para construir suas casas. Segue-se então o período de barbárie intermediaria quando homem plantando, construindo e criando animais e terminando com a manufatura do ferro. Depois de manusear o ferro o homem passa para um status de barbárie superior e a partir que descobre a escrita passa para o status atual que estamos hoje que é um estado de civilização.

 
O estudo de Tylor buscou definir o conceito de cultura quando disse:

 
Cultura ou civilização, tomada em seu mais amplo sentido etnográfico, é aquele todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte , moral, lei, costume e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem na condição de membro da sociedade (TYLOR, A ciência da cultura. In. CASTRO, Celso org. evolucionismo: Textos de Morgan, Tylor e Frazer. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.2005).

 
Sendo assim o método usado para descrever uma cultura é catalogar todos os itens da vida do povo pesquisado, descobrindo assim a marca cultural do mesmo com classificações e analisando comparativamente com outras culturas ou mesmo fazendo apenas paralelos entre varias culturas. Tylor equipara como sendo a mesma coisa cultura e civilização, e tendo a civilização vários graus de evolução, a cultura dos vários povos também é medida por degraus e quantidades fazendo entender que uma sociedade pode ter mais cultura o que a outra.

 
Em o Ramo de ouro, Frazer atenta para um estudo comparativo dos mitos, folclores e crenças de varias sociedades. Argumentando no sentido de que o pensamento Humano evolui de um estagio mágico onde as pessoas apelam para simpatias e manipulações de matérias a fim de se mudar uma realidade, passando para um estagio religioso onde procuram o auxilio de seres espirituais superiores para alcançar mudanças em suas vidas. O fim desse processo termina quando o homem não mais procura a magia ou a religião para interferir em sua realidade e passa a buscar na ciência e suas técnicas, meios de manipular o ambiente favoravelmente aos seus anseios. Mais uma idéia de progresso e evolucionismo dos povos tentando mostrar que o europeu se encontra num estágio superior.

 

O Ser Humano Primitivo


O que vem a ser o primitivo? Boas e Cardoso de Oliveira discorrem sobre o sentido de ser humano primitivo presente no senso comum das sociedades européias médias e das sociedades modernas de hoje. Boas diz:
 
Estamos habituados a falar tanto de raças primitivas quanto de culturas primitivas, como se ambas estivessem necessariamente relacionadas. Não só cremos em uma estreita relação entre raça e cultura, mas estamos também dispostos a sustentar a superioridade de nossa raça sobre todas as demais (BOAS, Franz. A mente do ser humano primitivo Petrópolis: vozes, 2010 .Introdução e análise histórica PP.9) .
 
Boas então, ao estudar a crença popular entre os europeus do pós conquista, esmiúça o sentimento de superioridade dos brancos conquistadores. O que leva a criação do termo “primitivo” é fruto da comparação de cultura, raça e nível de civilização entre as sociedades européias e os novos povos descobertos. Os Homens europeus por seu histórico isolamento continental na idade média passaram séculos acostumados a convivência com povos vizinhos aparentemente muito parecidos em sua fisionomia e sua cultura. Não havia assim tanta estranheza com o estrangeiro, como por exemplo, entre o povo germânico e o povo italiano. Isso tudo muda quando o europeu viajando pelo novo mundo descobriu etnias das mais diversas, pessoas com aspectos físicos e costumes muito diferentes; passando assim a pensar o porquê de tamanha diferença. Primeiramente o homem conquistador por intermédio de armas e táticas de guerra mais poderosas, consegue subjugar o estrangeiro de forma avassaladora e até certo ponto bem facilmente, sem grande resistência. Comprovando pela força que sua sociedade é superior a sociedade conquistada, e por esta força ser oriundo das suas tecnologias, da sua ciência inventiva e da sua civilização o europeu supôs que sua sociedade era o exemplo do maior grau de evolução que as raças poderiam alcançar. Partindo dessa primeira análise o europeu julgou que seu sucesso civilizatório estava relacionado com sua raça. Pensavam que seu intelecto produtivo era algo inato de sua raça, que o homem branco de olhos claros é o gênero humano mais evoluído da espécie, capacitado pela natureza biológica a estarem numa posição superior aos dos povos primitivos. Teoria esta sem fundamento cientifico algum. E que o sucesso dos europeus diante de outros povos se deve mais a um fator histórico de acúmulos de conhecimento e tecnologia de outras civilizações do que fruto de sua própria engenhosidade inata.
 
Como fenômeno de contato social que ocorria entre povo conquistador e o povo conquistado Cardoso de oliveira fala sobre como o branco subjugou o primitivo levando em consideração a crença na sua superioridade, citando autores como Balandier que definiram a chamada situação colonial:
 
Pode-se defini-la retendo-se as condições mais gerais e manifestas destas condições. São elas: O domínio imposto por uma minoria estrangeira, racial (ou étnica) e cultural afirmada de modo dogmático, a uma maioria, autóctone, materialmente inferior, este domínio provoca o estabelecimento de relações entre civilizações heterogêneas; uma civilização com máquinas com uma economia poderosa, de ritmo rápido e de origem cristã se impondo a civilizações sem máquinas, como economia “atrasada”, de ritmo lento e radicalmente não-cristã; o caráter antagônico das relações existentes entre essas duas sociedades que se explica pelo papel de instrumento a que é condenada a sociedade colonizada; a necessidade para manter esse domínio, de recorrer não só à “força” mas também a um conjunto de pseudojustificações e de comportamento estereotipados (CARDOSO DE OLIVEIRA, Roberto. O índio e o mundo dos brancos. 33. Brasília: Edunb; São Paulo: Pioneira, 1981 , introdução a noção de fricção interétnica, pp. 17).
 
 
 
Foi pensando a espécie humana como civilizados e primitivos que o europeu sentiu ser obrigação sua impor sua cultura aos povos conquistados, levando etnias em estados “primários” de sociedades para estados mais avançados, justificando seus atos imperialistas como um bem para toda humanidade.