sábado, 26 de março de 2011

Educação, Política e Justiça a partir de Platão e Aristóteles


A importância do individuo para polis grega era fundamentalmente importante. Não havia na concepção de Platão e Aristóteles, diferença entre o social e o individual. O Coletivo agia simbioticamente sobre o individuo e vice-versa. Não se deveria considerar de maior valor a defesa do direito de uma pessoa em detrimento de toda sociedade. Para se conhecer o cidadão devemos levar em consideração conhecer primeiro à sociedade em que ele vive, e para formar uma sociedade justa devemos formar cidadãos justos para que se evitem desacordos e porfias no conjunto da sociedade.




Nessa dependência entre o social e o individual a polis organiza-se eticamente sua política e justiça com a finalidade de promover a felicidade; sem restrições ou exclusões buscando sempre a contemplação de todos os cidadãos.


Segundo Platão a felicidade Humana consiste em viver de acordo com a justiça; essa justiça existe quando cada cidadão, geometricamente iguais, desempenhe sua função na sociedade para o bem geral da cidade. Pensando o cidadão sempre no todo, considerando a si mesmo sendo uma parte desse todo que se chama sociedade (PLATÂO, IV, 423d). Um sentimento de união; e onde não existe essa união se sobressai à injustiça. Injustiça e desunião para Platão têm um mesmo significado. A arte da Política na república platônica na organização da polis, existe para implementar a justiça no cidadão fazendo dele assim uma pessoa feliz.


A ferramenta de transformação da sociedade é a educação. A formação do jovem feita pelos “guardiões”, um grupo dominante e especializado de sábios que tem o papel de ensinar cada indivíduo a treinar sua inteligência para assim dominar suas paixões, um preparo de governantes sábios. O educador não treina apenas os futuros governos, mas todo o conjunto de cidadãos, para que cada um alcance a condição de desenvolver bem sua aptidão (República, 518c).


Aristóteles, discípulo de Platão confirma e complementa o pensamento do seu mestre ao afirmar que a felicidade é viver segundo a virtude. No capitulo VII d’ A Política, Aristóteles observa que ao elaborarem uma constituição para o Estado deve-se antes de qualquer coisa saber o qual o melhor o melhor modo de vida para os homens, qual deve ser o bem supremo da vida humana. Estes bens são divididos em três categorias: bens exteriores, bens espirituais, e bem corporais. E dessas três formas de bens humanos, os de ordem moral e intelectual são mais fundamentais para garantir o melhor modo de vida às pessoas. Muito mais importante que riqueza e gloria é o viver segundo as virtudes. Por isso a boa organização política só pode ser aquela que propicia, estimula e desenvolve tais características aos cidadãos.


Para se construir uma sociedade justa e feliz é o principal instrumento é a lei modeladora de virtudes e sua elaboração deve ser feita por pessoas altamente virtuosas e sabia, com total capacidade decisória. Não pode ser feito por um grupo buscando interesse próprio, mas sim pelo sábio imparcial preocupado em estimular o coletivo na virtude e justiça (ARISTÓTELES, Ética a Nicômacos, Livro X, 1180b, p.17). A justiça é uma disposição da alma, uma atitude positiva para fazer o que é justo.


resumos dos apontamentos do Professor Dr. Fernando Danner

sexta-feira, 4 de março de 2011

Ética aristotélica



Aristóteles discípulo de Platão em sua obra ética a Nicômaco formula o segundo grande estudo do modelo de ética a ser perseguido por cidadãos e governantes. Uma continuação, ou melhor dizendo, um aperfeiçoamento da teoria de Sócrates e Platão. O discurso Aristotélico define seu objeto e o método para se chegar a sua teorias sobre este objeto, ao contrario de Platão que usava o dialogo lógico na sua argumentação.
      O Homem como animal social para Aristóteles é um ser dotado de logos , ou seja,  de razão, e ao mesmo tempo inclinado a satisfazer suas paixões e desejos. Nestas circunstancias naturais o ser humano ético tem por objetivo desenvolver e a aperfeiçoar um meio termo que satisfaça de uma forma justa e ponderada, atitudes práticas aneladas de virtude e temperança.  Segundo nosso filosofo clássico, a atividade humana em sociedade e na natureza (práxis) deve-se operar segundo o critério do melhor, usando-se a razão como mediador de nossas atitudes, visando o bem supremo. Mesmo sendo varias as atividades e ciências humanas todas ela devem convergir para o bem. A medicina tem por finalidade a saúde, a economia a riqueza, a estratégia a vitória e a finalidade da política para Aristóteles é a implementação da justiça e o bem comum. E este bem supremo pode ser entendido com felicidade, viver bem e ir bem, o objeto da busca de todo ser humano. O bem também pode ser entendido como uma boa coisa, e esta boa coisa nada mais é do que fazer tudo visando a excelência.
       Aristóteles vê uma ligação de dependência entre certas atitudes e o modo de vida do ser humano. Se o cidadão procura e tem por objetivo a felicidade, deverá levar em conta que esta felicidade por si só não existe, mais é resultado da vida repleta de virtudes, meios matérias suficientes para suprir as necessidades básicas e fazer o bem, que é agir com excelência segundo as virtudes éticas. Coragem, temperança, liberalidade, magnificência, magnanimidade, equanimidade, placidez, amabilidade, veracidade, jovialidade, pudor e justiça; esta são as virtudes éticas apontadas por Aristóteles.
     O político governante tem uma dupla responsabilidade que é conseguir pra si a tal felicidade e proporcionar um ambiente favorável para que os cidadãos comuns possam alcançá-la. E segundo a formulação ética defendida, mesmo que no decorrer da vida o cidadão passe por situações difíceis e desfavoráveis, o viver segundo a virtude o levará a tomar atitudes dignas que não abalaram sua felicidade por completo. Portanto, a finalidade da ética como saber prático é responder quais os verdadeiros bens da vida humana e como devemos viver segundo estes bens para que cheguemos à felicidade.
     Uma sociedade razoavelmente propicia a felicidade, deverá ter como principio norteador das relações interpessoais a justiça. E o significado de justiça mais claro apontando pelo filósofo, diz ser justo aquilo que conforme a lei é correto, e injusto o que é ilegal e inícuo. A justiça é considerada a mais elevada forma de excelência moral pois ela em suma é a pratica e materialização da ética através da moralidade. Como exemplo, na justiça mediana aristotélica, o ato voluntário de injustiçar ou prejudicar alguém será cabível de punição ao infrator e ressarcimento dos danos feitos a quem sofreu injustiça; enquanto o ato involuntário que resultou em injustiça a alguém, cabe somente a lei exigir a reparação do mal feito.
     Nesse contexto de ética, o político governante e os magistrados são os principais espelhos da sociedade como referência de agir com ética. Pelos menos espera-se deles tal atitude. Não era o que acontecia na Grécia de Aristóteles, contudo é o que se tentou institucionalizar entre os cidadãos e seus governantes. Os filósofos gregos desde Sócrates até o filosofo de que falamos buscaram através do seu conhecimento revolucionar o mundo em que viviam e deixar para posteridade as bases de uma sociedade justa. Fizeram da investigação minuciosa da essência das virtudes, a base teórica do que é ética, do que é governo e do que é Estado. Aristóteles mostrou que não apenas só a virtude e a razão são inerentes a alma humana, mas também os seus antagônicos naturais, as paixões e desejos humanos. Com a formulação do seu objeto de estudo procurou atacar de forma metódica as praticas erradas humanas, partindo do pressuposto de que só praticando virtudes podemos se tornar pessoas virtuosas.
      Finalizando o assunto, nunca é tarde para nos tornarmos pessoas éticas e assim como as sociedades podem evoluir em suas virtudes, o individuo mesmo não sendo uma pessoa virtuosa pode, como nossas sociedades se moldarem segundo a ética, tornando pessoas cada vez mais humanas. Um humano de verdade. E a ética nada mais do que o estudo do que de melhor há no homem e sua exaltação.